A construção da intimidade

Muitas pessoas se queixam da solidão e buscam em diversas atividades uma forma de driblar a sensação de estar só. No entanto, a solidão está diretamente proporcional à nossa capacidade de criar intimidade nos nossos relacionamentos. Criar intimidade significa nos tornar vulneráveis ao outro, assumir compromisso e responsabilidade para com o próximo.

Em geral isto nos causa medo, pois o outro pode invadir a nossa pseudo-privacidade, gerando em nós a sensação de estar sendo controlado ou até mesmo invadido em nossa forma de ver e nos relacionar com o mundo.

 

Nós temos a ideia de que criar relacionamentos é bom quando as pessoas são parecidas conosco, adotam o nosso ponto de vista. São, portanto, nossos espelhos. Quando encontramos alguém, num primeiro momento podemos nos apaixonar, colocando nesta pessoa todas as nossas expectativas quanto a um relacionamento íntimo. Isto se chama projeção.

Quando convivemos um pouco mais com a pessoa, percebemos que ela não corresponde aquilo que projetamos nela e então nos decepcionamos e aí nos deparamos com duas alternativas:

• Ficar sozinho novamente;

• Voltar-nos para nossa própria dimensão e explorar a nossa individualidade, de tal forma que possamos conhecer-nos em essência, sem necessidade de projetar no outro aquilo que no fundo desejamos de nós mesmos, ou ainda que aprendemos através dos condicionamentos a respeito do que é o relacionamento a dois.

A primeira alternativa é difícil num primeiro momento, mas é confortável, pois nos coloca no papel de "certinhos", enquanto o outro é culpado porque não correspondeu aquilo que temos como a imagem do bom parceiro (a). Além disso, nos livra do incômodo de nos tornar vulnerável a presença do outro.

Muitas pessoas vivem mudando de relacionamento, numa tentativa inconsciente de não se tornar vulnerável e íntima de alguém. Se tornar vulnerável a alguém significa abrir o coração. Para abrir o coração precisamos nos sentir seguros e para isso é necessário nos conhecer melhor.

Em geral uma pessoa que muda constantemente de relacionamentos pode esconder um desconhecimento da própria identidade e do seu valor real. Isto a torna muitas vezes narcisista, que significa uma pessoa com pouca noção do próprio eu e do seu valor real.

 

Esta condição gera na pessoa sensações de insegurança, tristeza e solidão, que a empurra a se ocupar, fazendo muitas coisas na tentativa de se livrar do seu próprio olhar e exame da própria individualidade.

Ramana Maharishi, sábio indiano diz: "procurar nas realizações externas a fonte da felicidade, sem descobrir o verdadeiro Eu, é como tentar cobrir o mundo inteiro com couro para evitar a dor de andar sobre pedras e espinhos. É muito mais simples usar sapatos". (citado no livro Amor e Sobrevivência – Dean Ornish).

Busque o essencial em si mesmo, abra o seu coração e perceba que você faz parte do Universo e tudo aquilo que você viveu constitui a sua história e como dizia o filosofo Sartre: "Não importa o que fizeram com você. O importante é o que você faz daquilo que fizeram com você". No ditado popular: "Fazer do limão uma limonada".

A construção da verdadeira intimidade se dá a partir da abertura do nosso coração para a vulnerabilidade e esta, por sua vez, só é possível quando confiamos e conhecemos a nossa essência.

Se você está constantemente insatisfeito com os relacionamentos afetivos de sua vida ou tem a sensação de estar sozinho na vida, examine o quanto você quer e tem espaço para se tornar íntimo de alguém.